Muitas vezes, conseguir um quórum qualificado é um dos maiores pesadelos de um síndico.
O que dizer, então, do desafio de mudar toda a natureza de um empreendimento – um local que antes era uma cooperativa habitacional e hoje é um condomínio -, e aindater que buscar uma construtora interessada em finalizar duas das três torres prometidas no projeto inicial, que não foram entregues e que faziam parte de uma área depreservação ambiental?
Uma tarefa quase para Hércules!
Parece impossível. Mas, sim, o advogado e administrador Moisés Oliveira Santos, 51, conseguiu. Ele é síndico do seu condomínio desde 2009.
Nessa época, o local era uma cooperativa habitacional, que contava, no projeto, com três torres, mas havia apenas uma finalizada e habitada. E, o que seria uma maneira mais acessível de comprar um imóvel – via cooperativa -, acabou se tornando um problema enorme.
“Em 2006 houve um aumento muito grande da inadimplência entre os cooperados. Com isso, a construção dos outros blocos ficou seriamente comprometida. Uma torre de 17 andares sem nenhuma estrutura e outra torre do mesmo tamanho, que estavam em construção desde 2002, ficaram paradas”, conta Moisés.
Para deixar a situação ainda mais complexa, o terreno era da cooperativa. Com isso, ficava extremamente difícil achar uma empresa que se interessasse em finalizar o empreendimento.
“Todos queriam o mesmo: ver o condomínio finalizado”, explica.
Para isso, o gestor precisava pôr em dia os documentos da cooperativa. A tarefa demorou cerca de três anos para ser finalizada.
Nesse período, Moisés percebeu que haveria muito trabalho pela frente. Se demitiu do seu trabalho no setor de hotelaria para se dedicar integralmente ao condomínio.
“Com a documentação em dia, consegui uma construtora que se comprometeu a finalizar as torres e as áreas comuns – após 13 outras empresas terem rejeitado o projeto”, aponta Moisés.
Em 2010, aos 44 anos, Moisés ingressou em uma faculdade de Direito (já era formando em administração), porque percebeu que precisaria de mais informação para atingir seu tão almejado objetivo.
“Foi muito bom ter sido síndico esse período todo. Como fui projetista quando mais jovem, já consegui incluir no projeto das torres diversas medidas de economia para o condomínio, como reúso de água, por exemplo”, relata o síndico.
Em 2012, a segunda torre foi entregue aos cooperados. Nessa época, também foi votada a troca de nome do empreendimento. Quem antes era “Fortaleza” virou agora “Be life”.
Em julho de 2013, começou a construção da última torre.
“Dois anos depois, o condomínio estava todo entregue. Algo que antes estava se arrastando há quase dez anos, conseguimos levar adiante e terminar. Tudo dentro da lei”, conta Moisés.
Outro empecilho para a finalização da construção da torre que faltava era a área de preservação permanente(APP) que existe dentro do condomínio, que conta com cerca de 3,5 mil m².
“Desde que assumi o condomínio, a única vez que fizemos arrecadação extra foi para cuidar do solo da APP. Chamamos uma empresa especializada, para ter certeza de que a área seria bem cuidada”, explica.
Apesar de estar em uma área considerada periférica em São Paulo, entre a cidade, Taboão da Serra e Embu das Artes, o gestor aponta que o empreendimento é o único na região que pode ser considerado um condomínio-clube.
“Temos piscinas, quadra, churrasqueira, academias, salões de festa, sala de jogos, entre outros itens. Estamos, sim, na periferia, mas entrando no condomínio a realidade é outra”, argumenta o gestor.
Para manter o valor do condomínio, que atualmente varia de R$ 312 a R$ 345 mensais, o teto de duas torres foi alugado para empresas de telecomunicação.