Em um sábado de noite, o pior aconteceu no condomínio onde José é síndico e morador. Primeiro, foram os lamentos de alguns moradores. Logo depois, foi o zelador, desavisado, a próxima vítima desse terrível mal que habita tantos condomínios.
Só que dessa vez não era um ladrão o que estava espalhando a preocupação no condomínio. Era o retorno do esgoto de um cano entupido.
Esse filme de terror e suspense pode não acontecer nunca com a sua unidade, mas é mais frequente do que se imagina.
Isso porque muitos condomínios têm problemas – crônicos ou não – com canos entupidos.
Os canos dos condomínios entopem, principalmente, por dois motivos.
1) FALTA DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA:
“Dificilmente um condomínio que conta com um serviço anual ou semestral de cuidados com ralos e canos vai apresentar uma emergência”, aponta Gabriel Karpat, diretor da administradora GK.
Por isso, muitos condomínios apostam em um contrato de manutenção com empresas do tipo. Elas fazem um trabalho de prevenção e, caso haja um problema durante o contrato, o mesmo é resolvido sem custo adicional.
Essa manutenção geralmente envolve uma limpeza de todos os ralos do condomínio, muitas vezes até os de dentro das unidades condominiais. Dessa forma, com toda a tubulação limpa uma ou duas vezes por ano, fica bem mais fácil evitar que os entupimentos ocorram.
Outro ponto destacado por Gabriel Karpat como positivo é o preço do serviço. “Caso aconteça uma emergência, essa situação já está prevista no contrato. Se não, o condomínio poderá ter que pagar um extra, que não estava previsto”, argumenta ele.
2) DESCARTE INCORRETO DE MATERIAIS:
“É muito improvável irmos a um local e não encontrarmos itens que não devem ser descartados pelo encanamento como fraldas, absorventes, papel higiênico, palha de aço, preservativos, etc.”, aponta Claiton Selloti, sócio da empresa CS, que oferece serviço de desentupimento.
O descarte incorreto do óleo de cozinha também pode ser um grande problema para os encanamentos.
“O óleo vai se juntando a outros materiais por dentro dos canos e vai formando crostas. Eventualmente essas crostas impedem a água de passar pelo local, ocasionando entupimentos”, aponta Andersom Aparecido, gerente de operações da Júpiter, empresa que oferece serviços de desentupimento.
Além de ser um fator de risco para entupimentos, o descarte incorreto de óleo de cozinha também é prejudicial ao meio ambiente.
Caso fosse jogado diretamente em um rio ou represa, um litro de óleo pode contaminar até um milhão de litros de água, além de comprometer também o solo do local.
Onde há saneamento e cuidados com o esgoto há tratamento adequado para o óleo de cozinha, mas a presença do mesmo encarece e dificulta o tratamento da água.
Por isso, o mais indicado é não jogar restos de óleo pelo ralo. Pode-se, por exemplo, contatar parceiro que retire o óleo do condomínio – como é o caso da Lirium.
“Nós deixamos um vasilhame de 50L no condomínio, e vamos retirar periodicamente. O único custo é para comprar o vasilhame, que custa cerca de R$ 50”, explica Nelson Danuzzo Jr., gerente da Lirium.
No ato da retirada, a empresa troca a quantidade de óleo por produtos de limpeza para o condomínio.
Além da Lirium, há outras opções para a retirada do óleo de cozinha do condomínio, como o aplicativo Vitaliv, o programa Óleo Sustentável, a ONG Trevo, a Ecóleo e o Instituto Triângulo.
Apesar de todos esses cuidados, nada garante que, mesmo com uma empresa fazendo a manutenção preventiva, seus canos nunca mais ficarão entupidos.
O ideal é, além da manutenção, apostar na prevenção e conscientização dos próprios moradores.
“O síndico deve investir na conscientização dentro do condomínio. Cartazes para moradores, funcionários, alertando sobre o que se deve ou não jogar pelo ralo (ou vaso sanitário) é fundamental. Falar sempre em assembleia sobre o assunto. Explicar que mesmo papel higiênico não se deve jogar pelo vaso, assim como restos de alimento”, ressalta Claiton.
As tubulações funcionam da seguinte maneira: há uma entrada de água no condomínio. Essa água geralmente é distribuída por prumadas e depois por ramais, até chegar nos pontos de uso da água, como torneiras, chuveiros, máquina de lavar roupa, etc.
Nos condomínios mais modernos há dois tipos de encanamento de água: um que atende a cozinha e outro que atende aos banheiros e a lavanderia.
Na “saída” do condomínio, o encanamento da cozinha e lavanderia terminam na caixa de gordura, enquanto que a parte advinda dos banheiros termina na caixa de esgoto.
Em empreendimentos mais antigos não há o uso da caixa de gordura.
A mesma tem um papel importante: o de reter as gorduras (como óleos de cozinha, por exemplo), evitando que as mesmas sejam despejadas no esgoto.
Como a caixa guarda esse material, ela deve ser limpa periodicamente por uma empresa especializada e que deve licença para descartar esse material em um local correto.
A caixa de esgoto não retém nenhum tipo de material. É importante, porém, contar com uma manutenção preventiva uma ou duas vezes por ano para evitar um problema de entupimento bastante comum no local: as raízes de árvores que porventura cresçam próximas às caixas podem encontrar ali um local propício para crescerem e, assim, acabam impedindo o fluxo necessário de água no local.
Como para tudo há uma norma, para as tubulações do condomínio não poderia ser diferente.
E para facilitar o reconhecimento de qual material passa por qual cano, há cores certas para cada tipo de tubulação. Veja:
A cena de terror descrita no início do texto, quando o esgoto volta pelo encanamento pode acontecer sim, infelizmente, quando há entupimentos no caminho até a caixa de esgoto.
O primeiro e segundo andar são as vítimas mais comuns. Isso porque para “subir” pelo encanamento, o esgoto precisa de pressão – o que fica mais difícil a cada andar.
Por isso, estar sempre de olho nas caixas de gordura e de esgoto do condomínio, assim como na saúde dos canos ajuda a evitar esse tipo de situação problemática.