O descarte incorreto do óleo que usamos na cozinha de casa pode ser extremamente prejudicial para o meio ambiente.
Se um litro de óleo entrar em contato com um rio, por exemplo, pode contaminar 1 milhão de litros de água.
Vamos combinar: é a perfeita imagem de desequilíbrio ambiental.
E no caso dos condomínios, o problema é ainda pior. Além do dano ambiental, o descarte errado também gera prejuízos financeiros e transtornos, já que o mesmo danifica e entope as tubulações.
A boa notícia é que a opção por um descarte correto é mais simples do que se imagina e fácil de ser implementada em condomínios.
O síndico não precisa aprovar em assembleia a coleta seletiva do óleo, mas é interessante aproveitar um encontro do tipo para iniciar a campanha de conscientização sobre o assunto.
“Aproveitar aquela assembleia que decide as vagas de garagem, que tem bastante adesão é uma ótima oportunidade. Chamar uma ONG que fale por 10 ou 15 minutos sobre o assunto já ajuda bastante”, sugere Geraldo Bernardes, diretor de Sustentabilidade Condominial do Secovi-SP.
“Quem faz o descarte correto transforma um problema em solução. Esse óleo usado, sem nenhuma serventia a princípio, pode virar tinta, verniz, ração para animais e até biodiesel, usado em aviões, além de contribuir com o trabalho dos coletadores”, explica a fundadora e atual presidente da Ecóleo, Célia Marcondes.
A entidade faz a ponte entre os condomínios e os coletadores em todos os bairros de São Paulo. Esses profissionais são cadastrados na ONG e são chamados para ir ao condomínio fazer a retirada, quando o recipiente que guarda, conhecido como bombona, o óleo estiver cheio.
“Há duas formas de guardar o óleo: direto na bombona ou armazenado em garrafas PET dentro da bombona. Nesse caso, as garrafas PET também são recicladas”, conta Célia.
“Além disso, rastreamos o óleo e conseguimos saber para onde foi exatamente aquele produto que estava num condomínio da Vila Mariana, e no que ele se transformou”, exemplifica Célia que também é advogada ambiental.
Atualmente a Ecóleo coleta 2,5 milhões de litros de óleo por mês em São Paulo. A entidade recolhe o dejeto também de outros locais, como empresas e restaurantes.
“Parece muito, mas é apenas 10% do que jogamos fora aqui. Nossa meta é arrecadar 100%”, argumenta ela.
A Giglio é outra entidade que faz o trabalho de retirada do óleo dos condomínios. Dos empreendimentos é cobrada apenas a bombona – cerca de R$ 60 – e o condomínio chama a empresa para retirar o óleo quando o recipiente estiver cheio. O óleo nesse caso também é rastreável.
“A cada bombona de 50 litros cheia, trocamos por 20L produtos de limpeza. Optamos por cobrar o recipiente porque infelizmente demora bastante para que as mesmas se encham”, justifica Adriano Mello, supervisor de coleta da empresa.
Para Célia, é importante que os condomínios busquem parceiros sérios no primeiro momento, não focando a troca como vantagem.
“É importante sabermos principalmente a destinação correta do óleo. É nisso que o síndico deve se focar ao procurar alguém para fazer essa coleta no condomínio”, assinala.
Há casos em que o óleo é doado pelo condomínio para causas específicas.
Em Curitiba, por exemplo, a Arquidiocese local faz esse trabalho de coleta do óleo em condomínios, vende o material para epresas que reciclam e o dinheiro é revertido para as causas locais.
“Nós oferecemos a quem doa esse óleo um certificado de destinação também, para que todos fiquem tranquilo quanto ao que será feito com o produto”, explica Jefferson Moreira, estagiário de engenharia ambiental do projeto EcoSolidariedade.
As administradoras também podem ajudar os condomínios que desejam implantar a coleta de óleo usado.
“Para quem for implantar essa coleta nos condomínios residenciais é importante salientar, além da questão ambiental, os ganhos econômicos para o condomínio”, assinala Fernando Fornícola, diretor da administradora Habitacional.
Fernando ressalta que ações desse tipo devem impactar periodicamente o condômino, ressaltando sempre que o benefício é tanto em prol da natureza como daquela comunidade.
“Deixar claro que o condomínio vai economizar no médio e longo prazo com cuidados com o encanamento e com a limpeza da caixa de gordura ajuda a manter o interesse e a responsabilidade dos moradores no assunto, além, é claro, da contribuição com o meio ambiente, que é fundamental”, argumenta ele.
Para ele, também é importante que o síndico escolha um parceiro que não “deixe o condomínio na mão” e faça a destinação correta do dejeto.
“Opte por um parceiro que seja bem-estruturado e que não vá demorar duas semanas para retirar o material”, aconselha Fernando.
Além de fazer as coletas com pontualidade, opte por um parceiro que ofereça a possibilidade de se rastrear esse óleo, dando um fim correto para o mesmo.
“O mais importante é saber que esse óleo não vai contanimar a água e o solo. Pelo contrário: ele estará ajudando a gerar oportunidades“, ressalta Célia da Ecóleo.
Ao entrar em contato com uma entidade, você pode também perguntar sobre outros condomínios que tenham essa parceria firmada. Dessa forma, é mais fácil saber quais os pontos fortes e fracos do parceiro e se o mesmo realmente faz o descarte correto do óleo.
Para dar continuidade à ação de descarte e coleta de óleo, também é interessante e válido montar uma comissão de sustentabilidade para cuidar do assunto, que pode englobar outras ações do condomínio, como coleta seletiva, uso consciente da água e a troca de lâmpadas comuns pelas de LED.